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Foto do escritorAdson Leonardo

Estrutura: O Iceberg oco

Atualizado: 21 de ago. de 2021

A Importância do Foco Narrativo Durante a Criação de Mundo


Assim como espetáculos, nossas histórias precisam de um palco ideal para se desenrolarem. Boa parte da escrita e do tempo dedicado a ela, principalmente em romances mais longos e de ficção, é passado no planejamento e desenvolvimento do que comporá este palco. Isso é a construção de mundo.


Criar um mundo não é tarefa fácil. Muito deve-se levar em consideração, afinal ele acolherá e desafiará os personagens. As ações destes, suas motivações e laços, estarão todas, direta ou indiretamente, conectadas a este cenário que desenvolvemos. E, assim como nosso próprio mundo, inúmeros fatores influenciam no dia-a-dia da história. Política, religião, clima, geologia, moda, costumes, línguas, a lista parece não acabar.


O que inicialmente parece um trabalho hercúleo pode ser feito de forma mais concentrada e direcionada. Ao aplicarmos objetividade em nossa criação de mundo teremos os pontos que importam para a história estabelecidos e podemos fingir que sabemos o resto: uma característica essencial para um escritor.


O Iceberg Oco


Uma analogia constantemente utilizada para o cenário e mundo onde se passa a narrativa em comparação ao que mostramos ao leitor é a do iceberg. O que vemos acima do nível da água é cerca de 10% do iceberg. Todo o resto está abaixo.

Colagem feita por Filipo Brazilliano


Quando se trata da escrita, estes 10% é o que mostramos e contamos diretamente ao leitor. São as coisas que ficam concretas, que ele tem certeza que nós, como autores, desenvolvemos de forma detalhada e interconectada ao roteiro.


Todo o resto que está abaixo da linha da água é a parte do nosso mundo que não tem conexão direta com os pontos principais da história mas que, ainda assim, são importantes pelo simples fato dos personagens e da narrativa se desenrolarem neste mundo.


Aqui entra a ideia do iceberg oco. Um volume tão grande de gelo - ideias, conceitos, relações e, consequentemente, trabalho - que leva muito tempo para ser desenvolvido. Portanto, o exercício que se deve fazer é visualizar. Os 10% acima da água são bem definidos, mas o que está abaixo dela não passa de uma casca para a qual os leitores podem olhar, ver a sombra e, uma vez que o que importa está bem estabelecido, bastará para que aceitem e entendam o suficiente para continuar na leitura.


Muitos autores acreditam que um mundo bem desenvolvido em cada um de seus aspectos é indispensável. E, de certa forma, não estão errados. A fundação física e cultural de um mundo dá vida à história. Porém, ao criarmos uma história para um público consumidor devemos levar em conta a experiência deste bem como nossa própria mão de obra. Ferramentas para otimizar esta relação podem e devem ser utilizadas.


Como fazer isso?


Criando o Essencial


Para conseguir o efeito de iceberg oco, alguns pontos são importantes de se manter em mente. Primeiro, ao criar o mundo, selecione poucos elementos deste que serão essenciais para a história. Eles serão a ponta do iceberg. É a estrutura política e econômica numa trama de jogos de interesse, ou o clima e geologia numa saga de exploração.


Cada um destes precisará ser bem definido, verossímil e entregue ao leitor o mais cedo possível para que este entenda como funciona, consiga associar aos eventos da história e, em certo nível, prever acontecimentos - uma vez que são sistemas que ele compreende e fazem sentido.


Neste momento da criação deve-se pensar naquilo que é indispensável que o leitor saiba. Aqui estará a maior parte do trabalho. Quanto mais desenvolvidos esses pontos forem, e relacionados à trama e personagens, mais movimento e drama é possível conseguir dos mesmos elementos.


Porém, como no mundo real, cada aspecto que existe depende da influência de outros. Estes comporão a casca submersa do iceberg. Aqui, uma estratégia é, a partir dos elementos principais já estabelecidos, traçar as linhas de influência que partem de cada um. Essas linhas nos levarão para os pontos secundários e terciários da nossa construção de mundo.

Estes ainda influenciam e ditam a vida dos personagens em algum nível. A diferença é que em boa parte do tempo podem ser mantidos no plano de fundo ou, diferente dos principais, não ditarão o fluxo da trama.


É, por exemplo, a fauna e a flora que são influenciadas pelo clima e geologia e serão importantes ao longo da história de exploração. Fazê-los conectados aos pontos centrais nos ajuda a passar confiança ao leitor sem muito trabalho extra, além de conferir a sensação de um mundo vivo. Porém, não é a única coisa que funciona. Mundos diferentes precisam de aspectos diferentes, e nem tudo se relaciona de forma direta e óbvia.


Quando temos este pontos definidos todo o resto não passará da casca fina. Algumas ideias serão passadas ao leitor de forma rápida e superficial, já outras nem mesmo serão citadas e, tenhamos elas desenvolvidas ou não, podemos deixar para a imaginação do próprio consumidor preencher.


Desenvolvendo o Mundo


Quando falamos sobre histórias longas ou que tomem muitos volumes, ter vários pontos diferentes desenvolvidos será necessário e naturalmente ocorre. O que acontece com frequência nesses casos é, ao longo das diferentes partes da história - sejam os atos, múltiplos livros, sequências de temporadas e filmes - focos diferentes são tomados em cada um e desenvolvidos. Ao final da obra, o mundo criado se torna sólido pela junção de todas as informações passadas.


Isso é possível pelo simples volume de conteúdo, mas também porque, quando o leitor passa de uma parte para a outra, assumimos que o conhecimento adquirido anteriormente está presente. Desta forma, não precisamos mais introduzir os mesmos conceitos. Isso libera espaço físico e mental para o desenvolvimento de novos aspectos do mundo.


O Indispensável


Aprender a filtrar os pontos essenciais e onde focar o trabalho é uma técnica muito útil durante a escrita. Quando se trata de criação de mundo ela é essencial dado o volume de trabalho.


Porém, apesar de estruturado, não precisa ser algo engessado. Tente imaginar quais aspectos menos óbvios se correlacionam em seu cenário. Como aquilo que menos se espera influencia no dia-a-dia dos personagens e os problemas que os encontrarão. Assim um mundo totalmente novo e cheio de aventuras se abrirá para vocês.


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