Três irmãos viajavam pelo frio Ártico. Caminhavam com as pernas afundadas em neve, até o joelho. O vento castigava, mas uma visão lhes trouxe esperança.
Saltando por detrás de um arbusto com folhas congeladas, um esquilo passava em frente a eles. Logo depois, uma raposa derrapou, assustada, ao avistar o trio. Os olhos continham uma sapiência inesperada que os observava com cautela. O esquilo havia escapado. A raposa, orelhas atentas, agora sem sua refeição, através das presas com uma voz aguda proclamou:
— Oh, quem vem lá desbravando locais tão inóspitos? Sou apenas uma pequena criatura vivendo mais um dia. Por favor, não me machuquem.
— Uma raposa falante. Como nos contos de infância! — Exclamou um dos irmãos.
— Raposa, raposa falante. Nos concederá desejos, como contava nossa mãe?
— M-Mas é claro. Como não? — respondeu a raposa. A oportunidade batia em sua porta. — Um desejo para cada, como falam as histórias. Mas tudo tem seu preço: uma porção de carne. Uma de cada. E os desejos serão concedidos.
O primeiro irmão, animado com inédita oportunidade, dá um passo à frente.
— Raposa, desejo todas as riquezas do mundo. Quero ouro, castelos e carruagens — diz, colocando parte de sua provisão em frente a criatura.
O segundo irmão, tecendo negativas ao desejo do primeiro, pede para si.
— Inteligência, raposa. Desejo ser rápido ao pensar e esperto, assim como você — deposita sua parte da barganha, com reverência.
O terceiro, desconfiado e rabugento, não perde a piada.
— Ora, ora, raposa. Está tão calor aqui, não? Eu desejo um sorvete. Bem grande e saboroso.
A raposa olha para os três, um de cada vez. Ela fecha os olhos, remexe o focinho e agita o rabo. Para lá. Para cá.
— Está feito — diz ela, se dirigindo ao primeiro irmão. — Tudo que existe agora é seu, basta ir pegar!
Em protesto, o segundo irmão se enfurece.
— Raposa pilantra! Não é mágica coisa nenhuma, apenas nos enganou!
— Ah, segundo desejo concluído. Tão esperto como uma raposa — ri ao dizer. — E para o terceiro, não tema. Seu sorvete está pronto, só não recomendo continuar pisando nele. — e dispara floresta adentro, deixando o trio para trás.
Conheça Adson Leonardo
Adson Leonardo é mineiro, de Montes Claros, redator, freelancer e escritor por hobby. Desenvolve materiais para RPG`s como Dungeons & Dragons. Aficionado por jogos narrativos e eletrônicos, tem como foco a fantasia e ficção.
Quando foi seu primeiro contato com literatura?
Difícil dizer, mas me formei como leitor no início da adolescência, lendo coisas como Percy Jackson, Harry Potter, Bernard Cornwell e histórias em quadrinhos, principalmente mangás japoneses. Sempre gostei de escrever e inventar histórias, seja nas aulas da escola ou em casa.
Você tem um blog de RPG, certo? Fala um pouquinho dele.
Tenho. É mais um caderno de ideias onde posto criações como monstros fantásticos e aventuras para jogar. Também gosto de escrever sobre a técnica ao redor do jogo e dele como arte narrativa, além de alguns contos. Quase não o divulgo, é algo mais pessoal, mas mando os textos para amigos e posto em redes como o Reddit.
Então o RPG influencia bastante na sua escrita?
Sim. Acho que a principal influência seria na estrutura lógica dos eventos. RPG`s nos dão mecânicas bem claras para trabalhar a fantasia e ficção sem tantas arbitrariedades e isso ajuda a escrita, pois deixam claros os processos, do porque e como aconteceram. Isso passa confiança ao leitor de que aquilo faz sentido e é reproduzível dentro daquele mundo. Além disso, a noção de estabelecer logo cedo o cenário, plano de fundo, temática e onde a história se passa é muito importante para os jogadores, assim como para os leitores de um texto.
Quais os seus planos para o ano de 2021?
Minha pretensão é escrever para RPG mesmo. Fazer materiais como guias sobre mundos, aventuras prontas para serem jogadas e etc. Apesar da maior parte disso não ser literatura de fato, ainda possuem o fundo de storytelling, só que aplicado de forma técnica e instrutiva para o consumidor usar, aí sim, em suas próprias histórias
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