Abriu os olhos, sentou na cama e pôs os pés no chão. Maria era a primeira a levantar. Arrumava os irmãos para a escola. Ao voltar, a menina preparava o almoço e passava o dia com eles, até a mãe chegar do trabalho, já a tantas da noite.
Os irmãos, ainda bem pequenos, perguntavam sobre a mãe. A garota dizia sempre a mesma coisa: “ A qualquer hora ela chama na porta”.
Um dia, já cansada dos serviços da casa, com o irmãozinho chorando pela mãe, Maria repetiu a frase.
No mesmo instante ouviu a voz da mãe chamar na porta. Mas como? Não era possível a mãe chegar nesse horário.
“Quem está aí fora?” perguntou Maria, já maldando quem seria.
“Sou eu, a mãezinha” respondeu a voz.
A menina sabia que essa não era a resposta que a mãe dava todas as noites.
“Não abram a porta” disse aos irmãos.
Ligou para o tio pedindo que ele fosse até a porta da casa dela, mas que não esquecesse o machado.
Na porta, a voz implorava para entrar.
Minutos depois ouviu o canto do machado chamando a morte, o esmagar do crânio, o som aquoso do sangue explodindo, um grito de ódio. Não era a voz de sua mãe.
Abriu a porta e viu Cabra Cabriola morta na porta de sua casa. O sorriso nos lábios do ser bestial ainda esperava uma criança para devorar.
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