Sempre ouvi falar que a vida é um palco, e decidi parar para pensar sobre esta frase. No tablado que precisamos nos apresentar diariamente temos desafios múltiplos que nos fortalecem, e ao mesmo tempo nos enfraquecem.
A força vem da resistência. Da capacidade que temos de nos reinventar quando recebemos críticas duras, ou quando ninguém aparece para nos prestigiar, até mesmo nas situações em que esquecemos o texto, nosso roteiro, nos obrigando a improvisar sob as mais adversas circunstâncias do dia- a- dia. A fraqueza é originada na exaustão da constante luta de se levantar todas as manhãs, ir até o “teatro”, engolir as dores, o sofrimento e o desejo de pedir demissão daquela “peça”. Embora esgotados, muitas vezes com problemas físicos e psicológicos, repetimos nossa atuação diariamente, na esperança de recebermos os louros da dedicação e, quem sabe, sermos ovacionados de pé, pelo menos uma vez na vida.
As quedas acontecem e nunca deixarão de ser um perigo. Um ator que precisa ser suspenso no ar para dar asas à sua interpretação corre o risco de ter seu senso de equilíbrio modificado e da gravidade fazer o seu trabalho de ponta-cabeça. Podemos ter a impressão de que o céu, lá em cima, está desabando sobre nós, nos castigando, nos tirando a oportunidade de conquistar o sucesso. Em momentos como esses, os artistas precisam se empenhar ainda mais em fazer o seu melhor, superar as dificuldades e retomar o controle do seu eixo, de seu Norte. O céu irá desabar, isso é uma certeza, porque a vida não é um ensaio: é uma noite de estreia após a outra, onde erros serão cometidos e as perdas, bem, infelizmente são inevitáveis.
O que cabe a nós, essa trupe nômade que percorre de um canto a outro desta imensidão de terra, é buscar alguém que tenha feito uma audição para o mesmo espetáculo. Alguém que conheça as músicas, os movimentos, a história e a expectativa para os resultados. Essa pessoa ou esse grupo irá amortecer os males das quedas. Mãos que unidas formarão uma rede segura de apoio, confiança e conforto.
Palmas para nós, que chegamos até aqui, apesar dos pés calejados. Somos os protagonistas de nossas apresentações, os que transformam o palco da vida em um espetáculo verdadeiro e único.
Sobre a autora
Alline Souza é uma autora presente em antologias de diferentes editoras, selos e revistas. Possui contos publicados de maneira independente, um livro digital que será lançado no começo de 2022. Escreve ficção científica, ficção fantástica, terror, suspense e não tem medo de se arriscar nos mais diversos gêneros. Apaixonada por séries, livros e U2, acredita que nunca é tarde para que os sonhos virem literatura.
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