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O silêncio da sereia, de Milton Costa

Atualizado: 13 de mai. de 2021


@arteocasional


"A pintura foi baseada num desafio ilustrativo, cujo objetivo era desenhar um peixe. Eu tinha em mente que queria uma sereia, mas não a tradicional sereia do mar. Então me lembrei de um ensaio fotográfico antigo de um homem que havia se casado e se separado de uma sereia.

Encontrei o artista @konashuk_anton e através de uma fotografia dele, fiz a pintura digital, com modificações nas cores da cauda principalmente. Essa fotografia sugere que a sereia se encontra em uma fase depressiva do relacionamento. Então, imaginei que ela estaria fumando para tentar se acalmar."


Milton Costa



Conheça Milton Costa


Milton Consta é um arquiteto formado, que através de uma bagagem artística vivenciada na sua infância e adolescência, retornou as telas através da pintura digital.

@miltonacn

Como foi o seu primeiro contato com a arte?


Eu diria que desde que nasci eu já tive contato com artes. Embora não tenha nenhum artista “formal” (no sentido de ter como profissão), minha família materna tem diversas pessoas (mãe, tios, tias, primos…) com uma veia artística bem viva, inclusive tenho nas paredes de casa alguns quadros pintados por essas pessoas. Então em um ambiente que já se tem essa cultura artística, foi bem natural que eu acabasse tendo a oportunidade de explorar esse lado bem cedo.


Meus pais sempre tentaram me incentivar a explorar o lado artístico, inclusive a tentar vaga no conservatório pernambucano de música (ficava do outro lado da rua), mas nesse caso eu nunca demonstrei interesse, minha expressão sempre foi com artes visuais.

Sempre tive acesso a vinis e cds de músicas de mpb, samba, bossa nova, jovem guarda (tínhamos uma coleção em casa). Sempre fui muito incentivado a consumir livros e a assistir filmes “não infantis”. Essa é inclusive uma memória muito forte que tenho do meu pai, locarmos filmes como “Dança com lobos”, “O último dos Moicanos”, “Silêncio dos Inocentes”, isso quando eu tinha uns 8 anos ainda. Então eu acumulei desde cedo muita bagagem de referências artísticas diversas.


Como foi a sua trajetória artística?


Eu sou Arquiteto (me formei em 2017 pelo Centro Universitário do Vale do Ipojuca), então, formalmente eu tenho uma formação artística e isso eu considero que me deu uma noção muito grande de conceitos “acadêmicos” da arte. Porém, minha trajetória começa de fato com o curso de pintura, era em uma galeria que ficava na Rua da Hora (Recife-PE), inclusive sou muito grato ao meu antigo professor, Edu, uma pena ter perdido o contato com ele.

Foi lá onde eu aprendi as técnicas de desenho com lápis grafite, aprendi a pintar com tinta acrílica e depois tinta óleo. Foi onde aprendi sobre sombra e luz, forma, volume e todo o acervo técnico.


Continuei pintando e fazendo o curso até os meus 15 anos.


Por que parou de pintar?


Porque meu pai veio a falecer e tive mudanças significativas na minha vida. Mudei de cidade, vim para o interior do estado e essa veia artística ficou adormecida até o fim do ensino médio, pelo menos.


Durante a faculdade de arquitetura eu diria que ela ficou em “banho-maria”, porque embora eu estivesse o tempo todo exercitando um tipo de expressão artística e consumindo muita arte, não fazia isso “por prazer”. No sentido de que me restringia a fazer apenas as coisas do curso.


E quando voltou a esse meio?


Agora, durante a pandemia. Nesse tempo todo. eu sempre tive o impulso de querer tentar voltar a pintar, mas era algo que eu sempre deixava de lado e com a quarentena eu decidi me dar a oportunidade de voltar a fazê-lo. Mas nesse caso decidi tentar com o “pincel virtual”, abri o photoshop, peguei o mouse e botei pra frente. Óbvio que as primeiras coisas saíram uma desgraça, mas agora já dá até pra dizer que fica engraçadinho.

Quem você tem como referência? Existe alguém que te guie, que seja o seu ideal?


Se me permitir, eu vou ter que dividir “as artes”, e aproveitar a oportunidade para falar um “tiquinho” de arquitetura também.


Arquitetura: eu gosto muito do que o modernismo proporcionou de revolução, no jeito de fazer arquitetura, onde a estrutura não está mais atrelada diretamente à forma. Porém, tenho minhas ressalvas quanto à alguns conceitos, (as famosas frases “menos é mais” e “forma segue função”). Eu diria que se você se formou em arquitetura, no brasil, nas últimas décadas, é impossível você não ter uma influência forte do modernismo no seu trabalho.

Vou deixar de lado os nomes já consagrados como grandes mestres e citar um contemporâneo que está seu auge, Bjarke Ingels. Ele é um arquiteto dinamarquês que eu admiro muito e que eu adoraria poder sentar com ele em um café para fazer um monte de perguntas. Quem tiver curiosidade, vale a pena procurar o trabalho dele.


Pintura: Eu poderia tentar formular uma resposta bem bacana aqui, para tentar parecer culto e etc. Mas a verdade é que eu não sei. Desde que tive a “pausa” de vários anos e recomecei, me considero como uma criança aprendendo a andar. Voltei a consumir

esse tipo de arte e a mergulhar nesse universo de novo a pouco tempo, então eu me sinto tateando e esbarrando nas coisas, procurando definir ainda o que me agrada.

Um nome e trabalho que vale a pena ser citado, é Roberto Ferri, um pintor italiano de talento incontestável.


O que sua arte representa pra você?


Eu tenho pra mim que toda arte é uma tentativa de se comunicar com alguém e não seria diferente comigo.


Eu sempre pintei o que eu achava bonito de admirar, então, no começo eram muito mais paisagens, eu não me interessava por pintar pessoas (talvez fosse um reflexo de uma pessoa que não tinha boas habilidades sociais? talvez). Quando voltei a pintar, foi justamente pintando algo que acho bonito de admirar, no caso, a figura feminina. Isso inclusive já me rendeu algumas dores de cabeça com acusações de objetificação do corpo feminino…


Como funciona seu processo criativo?


Para pintura eu espero a vontade bater (até por isso o nome do perfil é Arte Ocasional). Os motivos são diversos, uma conversa qualquer que me deu uma ideia, uma música que eu achei a letra interessante de ser reinterpretada visualmente, e inclusive alguém que tenha pedido para ser pintada.


Então, basicamente, meu processo é consumir referências aleatórias até a “dar um estalo” e ir pintar.


E o que você diria para quem está começando agora?


Duas coisas: “Vai ficar ruim, e você vai ter que começar de novo” e “A roda já foi inventada”

Vai ficar ruim e você vai ter que começar de novo. Isso a faculdade de arquitetura me ensinou muito, nem toda boa ideia vai dar certo e nem toda ela vale a pena ficar remoendo, seja por ela ter sido mal concebida ou de fato por uma limitação de quem executa. Mas isso não tem que ser traumático, se ficou ruim, faz do zero de novo. Na pior das hipóteses, você já descobriu um jeito de não fazer aquilo, tente um jeito diferente.


A roda já foi inventada. Ninguém mais vai criar algo do zero, é preciso ter referências, consumir elas te dá acervo e bagagem para produzir. Não é “pecado” se basear numa ideia muito boa que alguém já teve para fazer algo. Para aprender, vale até tentar copiar, pegue algo que você achou muito foda e tente entender a técnica que o autor usou. Depois tente replicar as escolhas que ele fez ali, só tenha a boa prática de quando publicar algo, dizer de qual fonte você bebeu (plagio é crime, não finja que algo é seu se não é de fato).

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