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Peixe Porco Paulo, de Tatiana Faraújo

Atualizado: 24 de jun. de 2022

"No creo en brujas, pero que las hay, las hay", quem nunca ouviu aquele velho ditado espanhol? É evidente que a figura da bruxa sempre esteve presente no imaginário popular. As bruxas selam o elo entre o ser humano e o seu lado mais sombrio, pois representam até aonde uma pessoa iria para concretizar os seus desejos.

A leitura de “Peixe porco paulo”, de Tatiana Faraújo dura pouco, mas marca muito, tem apenas trinta e três páginas e encontra-se na Amazon. Citando a própria sinopse da obra: “Peixe porco paulo” é uma antologia de terror com três contos sobre fome, pobreza, desespero e desejo. Ou seja, a autora escolhe tratar da essência obscura dos seres humanos.


Os contos reúnem histórias de pessoas profundamente magoadas, mas que teimam em se esconder da sua realidade, tais como um velho pescador orgulhoso que chora ao ver a sua rede cada vez mais vazia, um matador de porcos que deseja uma mulher que não corresponde ao seu interesse e uma costureira que luta sozinha para criar o filho, mas sofre muito com uma perda.


A autora percorre com maestria os piores sentimentos destes personagens e traz a figura de Dona Suriá, uma bruxa poderosa, envolta em mistérios e que realiza desejos, mas tudo tem um preço.


Em alguns momentos, tais histórias nos causam um desconforto proposital, e nos levam a refletir sobre a nossa humanidade. E creio que essa seja a melhor parte da obra, poder imaginar as possibilidades após a leitura.


Recomendo a obra para leitores de ficção especulativa. Garanto que o incômodo é breve e o prazer e as reflexões que a leitura causa duram muito mais.


Em um mundo permeado pela ganância, só podemos concluir que as bruxas estão soltas.

Conheça a autora


Pernambucana do lote de 96, Tatiana Faraújo escreve ficção especulativa sobre pessoas por quem ninguém colocaria a mão no fogo. Participou de antologias de ficção especulativa em 2021 e revistas literárias como a Pulpa e a Ignoto. Vencedora de um Rocket Pages, participou do anuário da Rocket Editorial. Publicou de forma independente, no mesmo ano, o romance de sci-fi "Vermilion", junto com o conto espacial “Não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar” e a antologia de terror “Peixe, porco, paulo”. Em 2022, publicou o conto "Rastros de Baby Blue" na Revista Escambanáutica e o conto “Varejeiras” na Revista Noturna.


Tatiana, pode nos contar um pouquinho sobre sua trajetória na escrita?


Eu escrevo há muito tempo, mas comecei a publicar mesmo no ano passado! Participei de algumas antologias no começo do ano e publiquei em algumas revistas.


Publiquei de forma independente um conto em agosto chamado “Não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar” sobre um astronauta que aceita a missão de voltar no tempo apenas para ter mais alguns momentos em casa. E no finzinho de setembro meu primeiro romance, “Vermilion”, que é uma releitura de Cinderela e Moisés num universo inspirado em Duna e Star Wars


Com quais gêneros você sente mais familiaridade?


Eu gosto de escrever um pouco de tudo, sabe? Mas no momento estou focando em ficção especulativa - terror, ficção científica e fantasia (que foram os gêneros que eu mais publiquei em antologias).


Existe algum elemento recorrente em suas narrativas?


Prefiro escrever sobre gente maluca. Na minha bio eu sempre coloco que gosto de escrever sobre personagens por quem ninguém colocaria a mão no fogo porque eu gosto de escrever personagens bem canalhas, sabe? Daqueles que a gente sabe que não prestam, mas acabamos criando um carinho especial por eles.


Eu gosto muito de escrever romance e a maioria das minhas histórias é sobre isso. Gosto de trabalhar com enemies to lovers, haters to lovers, ex que se tornam rivais e por aí vai….

Me conta sobre suas participações em revistas e antologias?


Eu costumava guardar o que escrevia porque não sabia se era bom mesmo então quando comecei a passar nessas antologias fiquei bem: “uau, acho que sei o que estou fazendo então”.


Em revistas em publiquei na Ignoto, um conto de ficção relâmpago chamado “Bicromia” sobre um clone que é recrutado pra ficar no lugar da mulher de quem foi clonada. Eu publiquei na newsletter da Escambanáutica, a Pulpa, um conto chamado “Um corpo e um templo”, uma história sobre uma bruxa que se sente desrespeitada pelo vilarejo em que vive, um lobo guará com quem tem uma relação especial e a neta dela que foge das próprias raízes. Eu publiquei três vezes na Revista conexão e literatura, lá no comecinho, um dos contos foi o “Não era mais o mesmo mas estava em seu lugar” com algumas diferenças do que eu publiquei na Amazon e dois contos de terror, um sobre um homem que trabalha num matadouro de porcos e precisa lidar com porcos vingativos chamado Caça e Carcaça e um sobre uma mãe que perde um dos filhos gêmeos e não consegue parar de sonhar com a volta dele, esse se chama Siamês.


Venci um dos Rocket Pages da Rocket Editorial no mês temático de vampiros, o conto se chama Mosca no Vinho e é sobre uma moça sendo forçada a se casar com um coronel que odeia e pedindo ajuda a um vampiro que vive nas redondezas da fazenda dele. Esse vai sair no anuário da Rocket.


Tenho 6 publicações pra sair em 5 antologias da Psiu Editora. De ficção científica tenho um conto chamado “O que ficou do lado de fora” sobre uma criança ET que fica presa na Terra. De terror tenho dois contos na antologia Circo dos Horrores: Desmantelado é uma história sobre uma contorcionista que dá um nó no próprio corpo e precisa de uma ajuda sobrenatural para sobreviver. O outro se chama “Quem sente falta do pipoqueiro” e é sobre um pipoqueiro que fica obcecado por uma mulher que se transforma em serpente no circo em que ele trabalha. De fantasia tenho um conto no Além do Olimpo, histórias de mitos gregos misturados com momentos históricos e o conto se chama “Trilha de ameaça”, passos de fumaça. É um romance trágico entre Caos e Calígene, no nevoeiro inglês de 1952. Tenho duas histórias contemporâneas, uma é um romance fofo de carnaval chamado Barbossa, case a gente!, da antologia “Meu Coração Agora é todo Carnaval”. E um conto chamado Toalete na antologia Dona de Mim, sobre empoderamento feminino, que conta a história de duas rivais de escola que se encontram anos depois num banheiro.


Na Cartola eu tenho duas publicações, uma de fantasia na antologia Maçãs do Amor que é uma antologia sobre deusas nórdicas. O meu conto é “Nem tudo o que reluz” sobre Iduna procurando por uma maçã dourada perdida que foi encontrada por um padeiro. A outra é numa antologia de terror e fantasia chamada Lilith, se chama “O caminho de volta” e é sobre duas vampiras ex namoradas que estão com muita raiva uma da outra mas precisam ficar cara a cara numa convenção de vampiras.


Publiquei um conto de terror num selo que fechou também, se chama “O que se lava da carne” sobre um pescador que faz um acordo com uma bruxa pra salvar o vilarejo em que vive. Também é terror.


Tenho uma de terror também na Quimera Editorial, antologia “A soma dos medos”. O conto é sobre uma mulher perseguida na rua por um stalker que lhe manda fotos do seu dia e se chama “Zoom”.


E tem mais um de ficção científica pelo selo Nebula chamado “O céu que te desintegrou”, sobre uma viúva que se enterra em teorias da conspiração para lidar com a morte do marido astronauta que nunca voltou de uma missão..


Eu publiquei no selo Off Flip 2021 também, um conto curtinho de ficção especulativa sobre um príncipe que é chamado pra socorrer um reino em outro planeta onde todos caíram num sono eterno e uma crônica sobre luto


Além da literatura, você é envolvida com outras artes? Como se relaciona com elas?


Então, eu sou designer de moda oficialmente falando, não trabalho com moda no momento, trabalho numa empresa de design de embalagem. Mas na faculdade acabei aprimorando muito o trabalho com ilustrações, então também trabalho um pouco com isso. Sempre faço minhas capas. Edição de vídeo eu desenrolo um pouquinho então também deu pra usar na campanha de “Vermilion”. A faculdade de design de moda às vezes é um grande “art attack”, então a gente aprende muita coisa pra fazer editorial, fazer artes conceituais e por aí vai.



Resenha por Vivian Menderico
Entrevista por Filipo Brazilliano
Edição e revisão por Elisa Fonseca
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