Um pouco da trajetória do célebre ilustrador e roteirista Rafael Calça, que venceu o Prêmio Machado da Darkside na categoria Quadrinhos.
Darkside — para os leitores que ainda não acompanham — é a primeira editora brasileira que se dedica especialmente aos gêneros de ficção científica, terror e fantasia. E, além dos gêneros, a estética e cuidado de edição são um diferencial a parte. Desde 2011 a editora promove um concurso anual para encontrar novos talentos.
No dia 14 de novembro de 2020 a Editora Darkside anunciou os ganhadores do seu concurso literário ‘Machado Darkside’. Entre eles está Rafael Calça, que ganhou na categoria quadrinhos com uma obra de nome ‘Aurora’, criada em conjunto com o também quadrinista Diox.
Nas palavras de Rafael “Há temas que precisam de mais visibilidade, por isso é muito importante um prêmio que carrega como símbolo o Machado de Assis. Fico muito honrado em ser um dos vencedores, mas já tinha achado ótimo a existência do concurso”.
Rafael Calça, tem 36 anos e é um paulistano, roteirista e ilustrador, apaixonado por quadrinhos. Participou da publicação independente da coletânea Front, edição 16 (2005), da Tecnorama Quebra Queixo Vol.3 (2010). Lançou a HQ independente “Dueto”(2013).
Foi roteirista dos romances gráficos Jockey (2015), Crônicas da Terra da garota (2016) e Jeremias - Pele (2018). Esta última lhe rendeu o Prêmio Ângelo Agostini de melhor roteirista, na HQ Mix como melhor edição especial nacional e melhor publicação juvenil além do grande prêmio Jabuti de melhor história em quadrinhos.
Rafael se destaca pela humildade e pela garra em seu trabalho. Quando perguntado sobre que conselho daria aos jovens sonhadores a resposta foi:
“Eu diria que estava certo quando me imaginei como um escritor profissional, que poderia ter duvidado menos de mim, que a minha história de vida era a minha força para construir algo bonito. Aos jovens eu sempre repito a mesma coisa: a sua história importa. A sua vida importa. O jeito que você vê o mundo importa. E se por acaso a dúvida surgir, isso é natural de uma pessoa que não é arrogante. Ser obstinado não é ser arrogante. Quem acusa assim uma pessoa preta, lgbt, mulher, só nos quer servindo café, abrindo portas e limpando o chão, e não ganhando troféus. E temos todo o talento para vencer. "
Em ‘Aurora’, obra que o levou ao prêmio da Darkside, o autor traz ao leitor uma emocionante história de três gerações de mulheres de uma mesma família. Sendo a avó de Aurora a condicionante da trajetória da neta. Uma história que foi baseada na história de vida da própria avó.A obra misturou um pouco da realidade com a ficção, mas manteve a luta da personagem para se manter viva e forte. Um drama carregado de inspiração e emoção desmedida posta em arte.
Esse trabalho, feito em conjunto com o quadrinista Diox, teve um tempo escasso, mas devido às mesmas referências familiares e objetivos em comum, se dedicaram e conseguiram terminar a tempo.
Aurora, relata o trabalho infantil feminino e para o autor, há a necessidade de expor como a sociedade mantém uma postura escravocrata, onde meninas negras ou nordestinas em vulnerabilidade seguem o caminho de suas mães e avós, sem alternativa, sendo exploradas no trabalho doméstico. E a sociedade acha normal, porque querem que algumas pessoas vivam na subalternidade sempre.
E é justamente com esse poder de fazer as pessoas enxergarem a realidade através do lúdico que Rafael coloca o leitor ou espectador na vida na pele dessas pessoas, mesmo que por pouco tempo. Sua intenção é trazer a reflexão "E se fosse comigo? E se fosse com alguém que eu amo?. Isso traz, para quem tem empatia, um aperto no peito e uma nova visão de mundo."
Rafael deixou um gostinho de curiosidade para os fãs ao revelar que em 2021 ele irá lançar uma HQ histórica sobre resistência indígena chamada O Último Tamoio, além de Aurora. Mas no momento, ele ainda quer curtir essa fase produtiva de 2020 que trouxe o Prêmio Machado e o lançamento de Jeremias - Alma, feito com muito amor.
Entrevista por Jennifer Valverde
Pesquisa bibliográfica por Filipo Brazilliano
Matéria, edição e revisão por Elisa Fonseca
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