“Semente de sangue”, de Gabriel Yared (@yaredgabr) é um romance de terror composto por um prólogo, 27 capítulos e um epílogo, todos carregando as características clássicas de terror somadas à literatura decolonial.
No romance acompanhamos a família Guimarães lidando com um mistério de sucessivas tragédias que marcam a história da família. Cada personagem lida com seus próprios traumas, enquanto têm suas vidas entrelaçadas pela herança de sangue e violência da família.
Gabriel Yared consegue ditar muito bem o ritmo do terror durante todo o romance. No início temos pequenos flertes com o paranormal e o estranho, formando aos poucos o ideário do horror e do terror na mente do leitor. Com o passar dos capítulos, a sensação vai escalonando até o seu ápice nos últimos capítulos. Esse ritmo é importante pois os efeitos do terror nos personagens acabam sendo transmitidos para o leitor, sendo um ponto muito positivo da obra.
Outro fator importante é o uso de vários pontos de vista. Como os protagonistas são a família Guimarães, cada capítulo aborda a história pelo olhar pessoal de um membro familiar, lidando com sua própria subtrama, que se entrelaça no grande mistério trágico da família. É muito comum, durante os capítulos, a história de um personagem esbarrar com a de outro, porém com pontos de vista invertidos. Isso torna a leitura instigante. Qualquer detalhe que parece irrelevante em um capítulo, torna-se fundamental em outro. Nada é em vão na narrativa de Semente de Sangue.
Por fim, mas não menos importante, Semente de sangue se enquadra no movimento literário nacional decolonial. A escrita é voltada para o povo brasileiro e busca romper com as amarras de nosso período colonial, demonstrando as consequências que esse marco de nossa história impactaram na vida dos brasileiros, principalmente membros de minorias como negros e mulheres. Como professor de história, e já peço perdão pela “carteirada”, obras que representam, de forma sensível e responsável, o sofrimento de uma etnia que foi escravizada, demonstrando também a riqueza cultural desse povo que resiste à todos esses anos de opressão, são extremamente necessárias e devem ser propagadas.
Rita Von Hunty, no podcast “mais que 8 minutos” do humorista Rafinha Bastos, disse uma frase que vai de encontro com o conceito abordado em sementes de sangue:
'[...] Agora essas pessoas querem igualdade. Já pensou se elas quisessem vingança? [...] O que aconteceria se a etnia dos povos negros em diáspora acordasse amanhã e falasse: “para cada negro que morreu do 1400 ao 1900 a gente vai matar um branco?”'
Como já abordado na resenha de “Barba: O universo numa casca de nós” (leia aqui a resenha), para se escrever terror é preciso entender o ser humano, o que ele teme e a sociedade em que ele vive. Gabriel Yared utiliza das nossas cicatrizes históricas, que ainda precisam, e muito, de reparação, para criar uma obra de terror excelente, que irá agradar bastante os amantes desse gênero.
Conheça o autor Gabriel Yared
Gabriel Yared é um jovem escritor, leitor e resenhista amapaense, amante da ficção de terror, fantasia e ficção científica, gêneros nos quais busca sempre explicitar suas vivências como LGBT e nortista. Gabriel é editor da revista Égua Literária e autor da fantasia sombria “Sementes de Sangue”. Leia a entrevista que o autor nos concedeu acessando esse link
Resenha por Mateus Cantele
Edição e revisão por Elisa Fonseca
Edição de imagens por Filipo Brazilliano
Se você é escritor(a) independente e gostaria de ter sua obra resenhada por um de nossos parceiros, envie e-mail para perpetuatendimento@gmail.com
Comments